UM OLHAR SOBRE O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA HISTORIOGRAFIA
DE SERRINHA: UMA CIDADE DO SERTÃO BAIANO
ClaudianaFonesca Menezes[1]
Eliana Pereira dos Anjos[2]
Gersoniria Andrade Oliveira[3]
RESUMO
Este
artigo busca esclarecer os aspectos relacionados à constituição da
historiografia da cidade de Serrinha em algumas perspectivas históricas,
geográficas e sócio-culturais, organizando uma visão panorâmica acerca de um
período marcado pela presença do colonizador português e seus descendentes,
através do desbravamento do sertão nordestino incluindo aí, o exercício de
atividades agropecuárias em diversas fazendas, como também, a exploração da
mão-de-obra escrava. São discutidos diversos aspectos numa sequência
cronológica.
Palavras-chave:Historicidade.Colonização.Sertão.Desbravamento.Família.
ABSTRACT
This
article aims toclarifyrelated aspectsto the constitutionof the historiographyof
the Serrinha’scity, its in somehistorical, geographical and socio-cultural
perspectives. This organizinganoverviewaboutaperiod markedby
the presence ofthe Portuguese colonistsand their descendants,through the
activities ofexploration of the in Brazil’s northeast,includingthe exercise ofagricultural activitiesin
severalfarms, addition to exploitation
of slave labor. Various aspectsare discussed in a chronological sequence.
Keywords:
Historicity. Colonization.Brazil’sNortheast.Exploration. Family
Para desvendar o processo de
construção da história de Serrinha, faz-se necessário compreender o termo
historiografia que conforme Aurélio[4]
é a arte de escrever história, a descrição dos acontecimentos. Estudo
científico e histórico sobre os historiadores.
Serrinha é uma das cidades
do nordeste baiano, a mais curiosa. A origem do seu nome deve ter surgido em
consequência das serras que a rodeiam-na. Sobre ela teria dito Rui Barbosa[5]
em 1915, “princesa dos sertões”, boato que corre de boca em boca, mas fato que
não houve.
Quanto aos primeiros
habitantes de Serrinha os cronistas da Corte fizeram várias referências às
tribos indígenas que habitaram o Nordeste da Bahia, região onde se situa o
município de Serrinha, dentre eles os Tocós, Biritingas e Cariris. A faixa de
terra próxima do mar era ocupada entre outras tribos, pelos Tupi, Tapuia e
Tupinaê. A rivalidade entre eles provocavam guerras e algumas tribos foram
forçadas a migrar para o interior, assim antes mesmo de iniciar-se a
colonização portuguesa, os Tapuias foram vencidos pelos Tupinaê e fugiram para
o interior tornando-se, por força das batalhas, habitantes dos sertões.
Antes de Serrinha tornar-se
cidade merecem registro dois fatos: a formação do Quilombo da Flor Roxa a
sudeste do arraial, e a construção da linha férrea. O Quilombo formou-se na
primeira metade do século XIX a sudoeste do arraial, em Candeal. O Quilombo era
formado por escravos que fugiam das senzalas revoltados com os castigos e maus
tratos dos senhores feudais. Estes escravos eram advindos de várias fazendas do
recôncavo e da região, dentre elas a Fazenda Morrinho, Tambuatá e Umburanas e
representavam uma ameaça à ordem a tranquilidade e aos bons costumes.
As pessoas que representam o
lugar na época pediram ao padre Severo, em Bonfim, um indivíduo que fosse capaz
de desalojar os escravos fugitivos. Foi enviado José Joaquim de Almeida, o qual
era adepto à vida rude do sertão, com a missão de expulsar os escravos, este
receberia como pagamento uma propriedade. Depois de muita briga matou a maioria
dos negros, prendeu outro, e passou a morar nas terras do São Caetano perto da Bela
Vista[6].
Para sobreviver sem muito
trabalho, José Joaquim de Almeida, passou a assaltar os viajantes que passavam
nas proximidades de suas terras. Quando o governo foi informado dos casos por
ele praticados, mandou uma força policial, composta por 80 homens para
prendê-lo em 1853, investida que durou quase um ano, para conseguir expulsá-lo
com seus sequazes. Foi desalojado e exilado para Gavião, onde morreu. Sendo
considerado uma figura mística, pois o povo acreditava que o mesmo possuía podres misteriosos, e que usava um
anel de amuleto que quando apertava no dedo indicava perigo. Neste
contexto, protegido por pessoas de suas relações, chegou a ser nomeado 1º Juiz
de Paz de Serrinha, titulação que os da Terra desconheceram.
Em 18 de novembro de 1880 foi
inaugurada a Estrada de Ferro, Alagoinhas – Serrinha. Fato que impulsionou o
desenvolvimento e a passagem da Vila à Cidade.
Com a estrada vieram muitas
famílias trabalhar em Serrinha, as quais se apegaram a cidade e passaram a
morar definitivamente no local, como é o exemplo dos Nogueira vindos de
Sergipe. Até o início da década de 1960, o movimento de transporte de
passageiros ou cargas era feito pelos vagões da Leste Brasileiro. Foram eles
que conduziram Rui Barbosa a Serrinha e trouxeram as novidades da Capital como
também, promoveram as exportações da terra para outros estados.
Por vários anos, a chegada
dos trens em Serrinha era motivo de alegria, novidade e prazer. Muitas
mocinhas, vestidas alinhadamente correram à espera do “trem”; muitos rapazes nos
bares e botecos faziam “hora” à espera do “noturno”, o trem era um
acontecimento social, o hotel da Leste, onde ficavam hospedados os viajantes e
visitantes, era muito frequentado. Muitos carnavais, bailes e serenatas foram
realizados nos seus salões, com a ascensão do transporte rodoviário a velha
Estação passou a ser segundo plano, a moda passou a ser vir de ônibus, as informações
de telefone.O hotel da Leste fechou, o seletivo silenciou e a Estação ficou
muda.
Com relações Ávilas e a conquista do Nordeste, Godofredo Filho[7],
destaca que se os bandeirantes paulistas foram osresponsáveis em desbravar o
melhor da natureza brasileira – as terras férteis e ricas do Brasil central e
do oeste – aos bandeirantes baianos destinou-se a aridez de intérminas caatingas,
num chão hostil das bromélias e
dos cardos. Os bandeirantes que formavam o ciclo baiano exploraram e
colonizaram o Nordeste em grande parte dos territórios de Pernambuco, Piauí,
Maranhão e Ceará, foram devassados por estes intrépidos sertanistas. Nesta
iniciativa, a história remonta a Casa da Torre[8],
construção mais audaz e
poderosa do Brasil colonial. Os Avilas se afoitaram pessoalmente, ao mais
longínquo sertão ordenaram, sob a direção de subordinados seus, entradas de que
resultariam excelentes descobertas. Vale ressaltar que os Avilas foram, antes
do mais, criadores de gado isto é, colonizadores e civilizadores por
excelência.
O historiador Pedro Calmon[9],
em seu livro História da Casa da Torre – Uma Dinastia de Pioneiros – descreve
que para fundar a capital do Brasil, mandou o rei “um dos seus melhores
soldados, Tomé de Souza, com 320 homens de armas e seiscentos degredados. Entre
aqueles, criado do governador, talvez de sua vila natal, São Pedro de Rates –
nome do primeiro curral destacava-se o moço Garcia D’Ávila, por ele tão
estimado que o fizesse, ao desembarcar, Feitor e Almoxarife desta Cidade e Almoxarife
da Alfândega.”
Mesmo depois da chegada de
Tomé de Souza e da implantação do Governo Geral, o estado permaneceu ausente
durante anos, deixando aos particulares, senhores de engenho na maioria dos
casos, parte dos poderes político, da organização econômica e até da
administração.
Entre esses senhores estava
Garcia D’Ávila, o mais poderoso deles, que largou as funções burocráticas da
Corte e dedicou-se a criação de gado. Senhor de Itapuã e das terras adjacentes,
em 1559, onde fundou a Casa da Torre, era casado com Catarina Roiz e de cujo
consórcio teria nascido João Homem, amasiou-se em 1553 com uma índia a quem deu
o nome cristão de Francisca Rodrigues e de cujo casamento nasceu Isabel
D’Ávila. Esta casou-se em Gil Vicente de Vasconcelos e depois Diogo Dias com
quem teve um filho varão Francisco Dias D’Ávila. Com as mortes de Diogo e
Isabel no final do século XVI, e estando Garcia D’Ávila muito velho (faleceu em
1610, com mais de 90 anos), coube ao procurador da Casa da Torre, Manoel
Pereira Gago, administrar os bens desta casa e educar Francisco.
Manoel Pereira Gago levou a
missão determinada por Garcia D’Ávila tão a rigor que casou sua filha Maria
Pereira com Francisco Dias D’Avila, de cujo casamento nasceu Garcia D’Ávila, o
segundo. São esses descendentes de Garcia D’Ávila, o primeiro, e outros homens
de armas que vão desbravar os sertões.
Numa relação entre Tomé de
Souza e os D’Avilas com a história de Serrinha percebe-se que são os descendentes
de Garcia D’Avila, sobretudo a partir de Francisco Dias D’Avila e de Garcia
D’Avila, o segundo, que irão desbravar
ossertões incluindo as atuais terras do município de Serrinha. Essas
terras cortadas pelas estradas das boiadas vão aparecer em citações datadas de
1654, com o nome original de Cittio[10]
Serrinha. Ou seja, 105 anos após a chegada de Tomé de Souza na Bahia e
fundação da cidade do Salvador. Trata-se, portanto, de sítio histórico
territorial identificado dos mais antigos do Brasil.
Em 1654, o capitão Luiz da
Silva iniciou relações com os índios das aldeias do Itapicuru. Este, juntamente com os bandeirantes baianos
Elias Adorno e Pedro Gomes foram povoadores dos sertões. Em 1669, o capitão
Fernão Carrilho foi destroçar os mocambos de Jeremoabo com as companhias
de armas da Casa da Torre e o caminho que seguiu foi do litoral rumo ao sertão.
Com essa nova rota, ligou as populações de Jacobina, Itapicuru, Rio Real e
Itabaiana ao São Francisco, constituindo-se na primeira estrada para o Piauí,
na condução do gado.
Em 1752, o movimento
colonizador dirigiu-se com maior intensidade para Jacobina onde localizava-se o
capitão Antonio Ribeiro Sardinha e outros sitiantes. Entre esses, achava-se
Domingos Alves Moreira, no sertão do Tijuco, no rio do Peixe, desde a lagoa do
Rufino no riacho dos Tocós e para o poente até a serra dos três irmãos, a
encontrar a estrada real do Pindá que vem do Piauí.
Já no final do século XVIII,
as terras da Bahia haviam sido percorridas em todos os quadrantes, como afirma (Franco apud Araújo,
1926, p. 7):
Uma dessas estradas, aberta
por Garcia D’Avila e outros, grandes criadores de gado no Alto Sertão, entre os
anos de 1654 e 1698, para a condução de suas boiadas, e retificada e melhorada
pelo coronel Pedro Barbosa Leal, em 1720, quando fundou a Vila de Santo Antonio
de Jacobina, cortava o Sertão dos Tocós, também chamado do Pindá onde ficava o arraiá
de Água Fria, e as fazendas do Saco do Moura, Serrinha, Tambuatá, Massaranduba,
Pindá, Coité etc. Em Serrinha, tomava as direitas pela fazenda Razo, hoje Vila
Aracy, para Geremoabo e Pontal no Rio São Francisco, e no tanque do Papagaio,
adiante de Coité (Cuyate – no original), tomava a direita para Tiúba, ou
Itiúba, como se diz hoje, o Joazeiro, no Rio São Francisco, e as esquerdas para
Jacobina.
A direção das estradas que
ligavam pontos de valor econômico seguia a dos vales dos rios importantes, onde
prosperavam a criação do gado, a lavoura de cereais, fumo e cana. Segundo a
descrição de Felisbello Freire, em sua História Territorial do Brasil, uma que
saía da capital para o Norte, “passava na Feira Velha, Pojuca, ladeando o rio
do mesmo nome: o rio Catú, zona esta bastante povoada e de lavoura de cereais,
fumo e cana; Bordejando a Matta de São João, chegava a Santo Antonio da
Alagoinhas, com alguns moradores. Neste lugar a estrada entroncava com a que
segue para Pernambuco. Chegava a Arammarys, lugar de rancho; ao rio da Prata,
donde seguia outra estrada para Subauma; passava o rio Camarigipe e seguia para
Água Fria, onde a estrada toma a direção sudoeste, ficando à direita Água Fria,
tomando depois a mesma direção até a Serrinha, lugar de muitos moradores e onde
havia excelente rancho de algumas fazendas de gado, Dahi chegava a Tambuatá[11],
lugar habitado e de criação de gado, ao tanque de Coité, ao rio do Peixe,
seguindo o vale do Palmeirinha, até Sapucaia onde estava o registro das
estradas e dali a vila de Jacobina.”
Com vistas a esclarecer a
história de Serrinha Pautada em documentos, o historiador Pedro Calmon assim
analisou a rivalidade entre as duas casas. Em A Casa Rival, sub-título da
página 79 História da Casa da Torre, anota que “o sargento-mor Antonio Guedes
de Brito, porém, apesar da vigilância do padre Antonio Pereira, socara naquele
maciço tronco a cunha de uma sesmaria. De repente, quando a Casa da Torre se
apercebeu da invasão, o magnate não somente tinha o seu domínio titulado, como
nele estendera oito currais. O instituto de defesa dos fidalgos de
Tatuaparaacalorou-lhe os protestos, que se revestiam de várias formas: a mais
convincente, a violência”.
Anota Pedro Calmon que os
Guedes de Brito eram muito poderosos na Bahia, como pode ser verificado no
documento tecnocrito, “Seu avô, o notário Antonio Guedes, lançara em notas o
testamento do primeiro Garcia D’Avila. Legou o cartório, e a ambição de
riqueza, a dois filhos afortunados: Lourenço de Brito Correia, provedor-mor da
Fazenda, governador interino na Bahia e no Rio de Janeiro, e Antonio de Brito
Correia, ambos combatentes famosos da guerra holandesa. Os serviços de Antonio
2º asseguraram ao neto do tabelião, Antonio 3º, uma situação privilegiada nas
milícias coloniais. Sargento-mor em 1667, mestre-de-campo em 1671, o maior
posto a que poderia aspirar. Exerceu-o, como juiz ordinário mais velho, em
1675, no triunvirato a espera do governador-geral. Fez enorme fortuna. Foi
senão, a mais vasta, pelo menos a mais falada do Brasil: porque, sem sucessores
masculinos, passou à filha, Isabel Maria, e à neta, D. Joana Guedes de Brito,
requestadas por isso, discutidas, celebrizadas, como as mais ricas herdeiras da
América portuguesa.”[12]
O mais antigo documento de
alienação das terras dos Tocós data de 1716. Trata-se de uma escritura pública
de venda que Dona Isabel Maria Guedes de Brito passou em Salvador, em 31 de
maio, ao capitão Antonio de Affonseca Correia, morador nos campos dos Termos da
Vila de Cachoeira, dos sítios Massaranduba, Serra Grande e dois Irmãos, herança
do seu falecido pai, Antonio Guedes de Brito, por 1:500$000.
A divisa desses
sítios era a seguinte: começava onde fazia meio certo a estrada Massaranduba,
onde estavamas casas do capitão João Alves Filgueiras, para o Tambuatá, onde
morava Bernardo da Silva, e daí, com o pião, corria rumo direito para a parte
do nascente até chegar ao Morrinho, que está entre o Saco Grande, a Fazenda da
Serra e Serrinha, e dele abaixo, com todas as voltas e enseadas até as
capoeiras que fizeram no Rio Salgado: embaixo, nas capoeiras, cinquenta braças
abaixo delas, seguia para a parte do Norte, buscando as caatingas até
endireitar ou emparelhar com a casa do Sítio dois Irmãos, e daí seguia para
diante com o mesmo rumo até se encher da meia légua e nesta forma se dividia
então por esta parte, ficando bem com o Sítio do Salgado, aonde morava Gaspar
Pinto, para se medirem e demarcarem pelas partes do poente. Tornava ao primeiro
pião da estrada, que estava entre o Tambuatá e Massaranduba e dele corria rumo
direito para a parte do poente até ficarem de dentro para a parte da
Massaranduba.[13]
A essa época, portanto,
existiam várias referências sobre Serrinha como local de pastagens, sede de
fazenda e rancho de moradores. Em nenhuma delas, porém, há citações sobre os
nomes dos seus primeiros moradores. Antonil em seu livro Cultura e Opulência do
Brasil, 1711, também fala em Serrinha ao descrever como era a estrada da Bahia
para o Norte.
Passava na Feira
Velha, Pojuca, ladeando o rio do mesmo nome; pelo rio Catú, estrada que
entroncava com a que seguia para Pernambuco; chegava a Aramari, lugar de
rancho; ao riacho da Prata, donde seguia outra estrada para Subauna; passava o
riacho Camarigepe e seguia para Água Fria, tomando depois a mesma direção até
Serrinha, lugar de excelentes moradores e onde havia excelente rancho e algumas
fazendas de criação de gado. Daí chegava a Tambuatá, seguindo o vale do
Palmeirinha.
Na escritura pública passada
pelo tabelião Manoel Affonso da Costa, da compra do Sítio Serrinha por Bernardo
da Silva, registra que ele já morava com a família nas terras dos Sertões dos Tocós.
Residiam na Fazenda Tambuatá como administradores dos bens dos descendentes de
Antonio Guedes de Brito.
Em 1723, passados 25 anos
como administrador dessas terras, Bernardo comprou à Dona Joana Guedes de Brito
e ao seu marido D. João de Mascarenhas as terras dos Sertões dos Tocós, por
2.200$000, e nelas um sítio chamado Serrinha e onde veio morar com sua família.
Bernardo da Silva e família
mudaram-se para o sítio Serrinha provavelmente logo após a compra das terras,
onde construíram casas e uma capela em louvor a Senhora Santana, e deram uma
nova vida a localidade. Quando morreu em 27 de setembro de 1750, as terras
foram divididas entre os seus descendentes.
Em dezembro de 1763, a viúva
de Bernardo, Josefa Maria do Sacramento foi testemunha da venda ao seu filho,
capitão Apolinário da Silva, das partes que tinham na Fazenda Saco do Moura os
outros herdeiros:
... de fato, nesse
ano de 1763 e dia 24 do mês de dezembro, no Sítio de Senhora Santana de
Serrinha, termo da Vila de São João Batista, e casa de morada da senhora Josefa
Maria do Sacramento, viúva do defunto Bernardo da Silva, o reverendo padre
Prudente da Silva e Fructuoso de Oliveira Maya e sua mulher Bernarda Maria, e
Maria da Purificação, por escritura pública passada por Manoel Jorge Coimbra,
tabelião da Vila de Água Fria, venderam a seu irmão e cunhado, o capitão
Apolinário da Silva, as partes que tinham no Saco do Moura, no valor parcial de
171$428 e total de 685$712, que lhe tocaram no inventário feito no juízo de
Água Fria.[14]
Do casamento de Bernardo da
Silva com Josefa Maria do Sacramento as provas que existem estão firmadas numa
escritura pública passada em Água Fria. O casal teve dez filhos, a saber: Prudente,
Apolinário, José, Inácio Manoel, Bernarda Maria, Maria da Purificação e quatro
mulheres que não se sabem os nomes, e que se casaram com Antonio Carneiro da
Silva, da Fazenda São Bartolomeu; Inácio Manoel da Mota, da Fazenda Tambuatá;
Domingos Ferreira Santiago, da Fazenda Serra Grande; e Miguel Afonso Ribeiro,
da Fazenda Sítio.
Bernardo e família tiveram o
mérito de transformar Serrinha no povoado mais importante da região. Apesar
disso, a sua origem ainda não foi devidamente esclarecida por falta de
documentos sobre a presença de portugueses e seus descendentes desbravadores
arrendatários dos sertões. O mais provável é que teria sido filho ou neto do
tabelião Sebastião da Silva[15],
o qual atuou na capital entre 1612 e 1635 Lima outra informação versa que
Bernardo da Silva seria português de Oliveira de Azeméis, o qual teria abandonado a Europa em
meados do século XVII, em busca de uma vida melhor e riqueza nas terras do Novo
Mundo. No trabalho genealógico sobre as famílias baianas, realizada pelo Frei Jaboatão,
não constam anotações sobre Bernardo da Silva no índice das famílias Silva: O
que existe de documental é uma escritura pública de venda, já citada
anteriormente, do Sítio Serrinha a Bernardo da Silva (por 2.200$000) passada em
06 de setembro de 1723, na cidade de Salvador, Bahia, pelo tabelião Manoel
Affonseca da Costa, este documento encontra-se arquivado na Biblioteca do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, em Salvador, no seu original.
Vale ressaltar que Serrinha,
numa análise histórica, além do que já foi exposto, também traz as seguintes
informações.
Em 1º de junho de 1838, a Lei
nº 67 criou o Distrito de Paz de Serrinha, e levou a capela à categoria, com
paróquia própria, pelo Arcebispo D. RomuladoAntonio Seixas. Em 24 de outubro de
1763 foi nomeado capelão o Pe. Antônio Manuel de Oliveira.
A Igreja Matriz de Serrinha
foi concluída em 1780 e possui uma inscrição de mármore no frontefício com os
seguintes dizeres: “Louvado seja o Santíssimo Sacramento e a imaculada
conceição da Virgem Nossa Senhora concebida sem pecado original”. Presume-se
que o ano de 1646 tenha sido o início da catequese dos índios Biritingas que
dominavam a região.
Pela Lei Provincial nº 1.069
de 13 de junho de 1876, foi o Arraial de Serrinha elevado à categoria de Vila e
criado o Município de Serrinha, com território desmembrado do município de
Purificação dos Campos, sendo inaugurado a 11 de janeiro de 1877. A Vila de
Serrinha recebeu foros de “cidade” pelo Ato estadual de 30 de junho de 1891,
assinado pelo Barão de Lucena, fato que constou da data de 4 de junho de 1891
do Conselho Municipal de Serrinha. A instalação solene da cidade ocorreu em 30
de agosto de 1891 segundo consta da Ata do Conselho municipal de Serrinha do
referido dia.
O percurso da historiografia
serrinhense permite caracterizá-la num contexto não apenas local, mas numa
visão regional no qual, percebe-se elementos externos e internos na
constituição de sua história, que apresenta fatores políticos, econômicos e
socioculturais. Sendo assim, há uma variedade de olhares acerca do estudo sobre a formação de uma cidade
durante o período colonial, desta forma a mesma não foge aos traços
significativos do modo da colonização portuguesa. Nesta acepção adota-se
a assertiva de Neves, pois segundo este:
A história regional e
local constitui-se, portanto, numa proposta de investigação das atividades
cotidianas de comunidades conectadas historicamente num território, conscientes
do pertencimento ou ele, integradas, portanto, em afinidades territoriais, com sanguíneas,
políticas, culturais e econômicas, com a identificação das suas interações
internas e articulações exteriores, na perspectiva da totalidade histórica,
como meio de se alcançar o conhecimento de viveres e saberes em dimensões
inatingíveis por outras abordagens sistêmicas ou de abrangências espaciais mais
amplas. (NEVES, 2002, p. 45).
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e Outras Artes. São Paulo: Cortez, 1999.
FRANCO, Tasso Paes. Serrinha,
a colonização portuguesa numa cidade doSertão da Bahia.Coleção: História da
Bahia. 2 ed. Salvador: Ojuobá, 2008.
_________. Serrinha:
Colonização portuguesa numa cidade do Sertão da Bahia. Salvador: EGBA /
Assembléia Legislativa do Estado, 1996. 386 p.
_________. Serrinha:
Histórias &estórias. Edições Serrinhense, 1972.
GONÇALVES, Aline Najara da Silva. Entre o popular e a historiografia, umaimagem controversa: O caso
Luiza Mahin. Disponível em: <http://www.ava4.uneb.br//file.php/117/Entre_o_popular_e_a_Historiografia.pdf.>.
Acesso em: 08 nov. 2011.
MEINKING, Maria da Glória Valverde. Minhas Lembranças de Serrinha. Salvador: Marchete, 2001. 112 p.
NEVES, Margarida de Sousa. Lugares da Memória na PUC – RJ. Disponível em: <http://www.ccpg.puc-rio.br/memoriapos/index.htm>.
Acesso em: 06 nov. 2011.
OLIVEIRA, Ana Maria Carvalho dos Santos. História e Região. Salvador: UNEB/EAD,
2010. 52 p.
OLIVEIRA, Antonio José de. Principais raízes do nosso povo: O indígena, o africano e o
português. Serrinha – Bahia, 2004.
Eu acho interessante como as estradas de ferro, que foram símbolos imprescindíveis para a constituição de fato, da economia brasileira no final do século XIX, hoje não tem importãncia alguma, a não ser por parte dos historiadores. Penso que a necessidade de modernização das ferrovias e principalmente dos maquinários ferroviários iriam desafogar as rodovias no processo de leva e trás dos produtos agropecuários e de forma a não por em riscos a segurança das pessoas, sobretudo, no concernete à infraestrutura das estradas que, comprovadamente, são os pesados caminhões que além de dificultar a mobilidade do trânsito vao deteriorando as estradas.
ResponderExcluirEDÉSIO CONCEIÇÃO NASCIMENTO - 2009.1/POLO RAFAEL JAMBEIRO